terça-feira, 29 de setembro de 2009

A menina que roubava livros


Uma leitura que começou chata, mas muito chata, vontade de desistir foi muita. Persisti, afinal um livro com 500 páginas tem que ter conteúdo. Em algum momento a história terá que prender a atenção.
A menina que roubava livros, do escritor Markus Zusak, começa com uma leitura monótona, para logo acelerar numa trama que prende sua atenção, deixando voce louco para saber onde a coisa toda vai acabar. Um bom livro, que voce não deve julgar pelas primeiras páginas. O livro me chamou a atenção pela frase escrita na contra capa:
Quando a Morte conta uma história, voce deve parar para ler. E assim o fiz, e que bom que fiz.
Sou do tipo... me emociono ao ler um livro ou ver um filme, chegando mesmo as lágrimas. Bobagem, creio que é sentimento... tudo bem, assim sou! A menina que roubava livros me arrancou lágrimas, algumas risadas e muita apreensão.

"Entre 1939 e 1943. Liesel Meminger encontrou a morte tres vezes. E saiu suficientemente viva das tres ocasiões para que a Própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história.
História que, nas palavras dirigidas ao leitor pela ceifadora de almas no início de A menina que
rouba livros, " é uma dentre a pequena legião que carrego, cada qual extraordinária por si só. Cada qual uma tentativa que é um salto gigantesco - de me provar que voce e a sua existencia humana valem a pena"
Essa mesma conclusão nunca foi fácil para Liesel. Desde o início de sua vida na Rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de sua existencia. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa trazia escondido na mala um livro, O manual do coveiro. Num momento de distração, o rapaz que enterrava seu irmão deixara cair na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.
E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado a Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto da própria vida, sempre com a assistencia de Hans, o acordeonista amador amável, e Max Vandenburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.
Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Alguns apenas passam por sua vida, outros a acompanham até que não lhes sejam mais possível, outros estão mais perto do que parecem. Mas só quem está ao seu lado por todas as 500 páginas de A menina que roubava livros, só quem testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve a vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora.
Um dia todos irão conhece-la. Mas ter sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena."

Um pequeno trecho do livro que me encantou pela simplicidade do conteúdo, uma conversa entre Liesel e Max, o judeu do porão.

"- Quer fazer uma coisa para mim, Liesel?
Ainda empolgada com seu gol na Rua Himmel, a menina pulou das mantas de proteção. Não o disse, mas seu movimento deixou clara a intenção de fornecer exatamente o que ele quisesse.
- Voce me contou tudo sobre o gol - disse Max - mas não sei que tipo de dia está fazendo lá em cima. Não sei se voce fez o gol ao sol, ou se as nuvens cobriam tudo.
Passou a mão pelo cabelo à escovinha, e seus olhos alagadiços imploraram a mais simples das coisas:
- Voce pode subir e me dizer como está o tempo?
Naturalmente, Liesel subiu a escada correndo. Parou perto da porta e se virou ali mesmo, observando o céu.
Ao voltar para o porão, contou-lhe:
- Hoje o céu está azul, Max, e tem uma nuvem grande e comprida, espichada feito corda. Na ponta dela, o sol parece um buraco amarelo...
Naquele momento, Max soube que só uma criança seria capaz de lhe fornecer um boletim meterológico desses. Na parede, pintou uma corda comprida e cheia de nós, com um sol amarelo e gotejando na ponta, como se fosse possível mergulhar dentro dele. Na nuvem encordoada, desenhou duas figuras - uma menina magra e um judeu murcho - e os dois caminhavam, equilibrando os braços, em direção do sol gotejante. Sob o desenho, Max escreveu esta frase:


As palavras de Max Vandenburg
escrita na parede
Era segunda-feira, e eles andavam
na corda bamba em direção ao sol. "


Um livro que relata a vida de uma menina na Alemanha-guerra-nazista, uma história comovente que vale a pena ser lida, nem que seja pelo último relato da narradora:

Uma última nota de sua narradora.
Os seres humanos me assombram.
mk

6 comentários:

  1. Lindézzzimo, talentoso e sensível TTÁ, que loucura todo o clima em torno do texto e realmente deu uma vontade danada de ler e... possivelmente eu o leia, depois de terminar "Esculpir o Tempo" de Tarkovski... que tb é lindo e raro... creia! Belissimo coment about books...rsrsr!
    bjs mis desde Vitória.

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  2. Um belo livro, Tato. Excelente crônica! Abraços,amigo!

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  3. Minha deusa das bandas de Vitória, que bom ter voce aqui comigo!
    Amo tu! bj

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  4. Márcio,

    Além de grande artista e arteiro vejo que vc é um excelente homem de marketing... to louca pra ler o livro!
    Sabe, quase sempre os seres humanos me assombram... Adorei. Bjão

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  5. Amigo Maga, gosto quando voce chega por aqui!
    Abç meu!

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  6. Ira,confesso que o ser humano prá mim é um bicho extremamente estranho. E vivo me assombrando com as coisas que essas criaturas(nós) são capazes!
    Adorei seu comentário no Meu Mundo meu Avesso.
    Lindo ter voce aqui.
    Bj

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