terça-feira, 12 de maio de 2009

Do Tempo Da Vergonha

Vergonha é o que voce sente quando coloca em risco sua dignidade. Por exemplo, quando pegam voce mentindo. Ou quando flagram voce fazendo uma coisa que havia jurado não fazer. às vezes a vergonha vem de atos corriqueiros, como um tropeção no meio de uma calçada ou uma gafe cometida num jantar. Isso não tem nada de grave, porém, se fez voce sentir vergonha, é sinal de que voce planejava acertar, o que é sempre bom.
Vergonha de ser apresentado a alguém? De falar em público? Também é bobagem, ninguém espera de nós perfeição. Isso é apenas timidez. Será que quem nasceu depois dos anos 80 sabe o que é timidez? Bom, timidez é um certo recato, é quando uma pessoa não faz questão nenhuma de aparecer. Não ria, isso existe.
Mas voltando ao que nos trouxe aqui. Vergonha é o que voce deveria sentir quando faz algo errado. É o que deveria sentir quando se desresponsabiliza pelo que está desmoronando à sua volta. Vergonha é quando voce se habilita para uma tarefa importante e descobre que não tem competência para executá-la. Vergonha é o que se sente quando interferimos na vida dos outros de forma desastrosa. Vergonha é o que deveria nos impedir de praticar hábitos aparentementes inocentes, como chegar atrasado no teatro quando a peça já começou, e nos impedir de coisas mais sérias, como roubar.
E há a vergonha sem culpa, a vergonha pelo que representamos coletivamente. Eu, ao menos, senti muita vergonha quando uma turista estrangeira, depois de ficar dois dias confinada num aeroporto brasileiro, sem conseguir embarcar, perguntou ao repórter o que significava o lema "ordem e progresso" na nossa bandeira.
Muitos políticos (pra citar uma classe trabalhadora eleatória) não possuem vergonha. Possuem contas no exterior, assessores de marketing, mas vergonha, nenhuma. Posam para fotografias ao lado daqueles cuja a mãe já xingaram e aceitam apoio de adversários que já lhes puxaram o tapete. Quando se trata de fazer aliança, a política, de um modo geral, revela-se um bordel, perdão se estou ofedendo as profissionais do ramo. É bem verdade que restam dois ou três que possuem a decência de dizer: prefiro não me eleger a jogar no lixo meus princípios. Mas para se posicionar assim, é preciso ser do tempo da bala azedinha vendida em lata, do tempo do "Boa noite, John Boy", do tempo dos Novos Baianos, do tempo em que Páscoa significava ressurreição e do tempo em que existia vergonha, coisa que quase ninguém mais sente, poucos lembram o que é e ninguém se esforça para reavivar.

Texto Martha Medeiros.

Este texto achei fantástico, mas alguém pode me dizer quem é ou foi John Boy??
Sem vergonha nehuma de perguntar!!!

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